Em fevereiro, o Brasil inteiro se encantou com o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, quando a Unidos da Tijuca, com o enredo ”O Dia em que toda a Realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”, tornou-se a campeã do grupo especial do disputado espetáculo do carnaval carioca. No Recife, o nosso Galo da Madrugada, com o tema “Galo, Frevo e Folião: Homenagem ao Rei do Baião”, em pleno sábado de Zé Pereira, arrastou uma multidão frevando pelas ruas do centro da cidade. Na Capital do Forró, o “Maior São João do Mundo” homenageou o responsável pela divulgação da Feira de Caruaru, através da música de Onildo Almeida. O pátio do forró, que leva o nome de Luiz, lotou de gente forrozando para reverenciá-lo. Alias, em todas as cidades onde se brinca esse festejo, Gonzaga reinou.
Artistas de diferentes gerações, gêneros e estilos musicais prestaram tributos ao pai de Gonzaguinha. Shows, CDs, DVDs, programas especiais em rádios e TVs, edições extra de jornais e revistas, além de livros sobre ele foram lançados. Exibições de obas de arte, tendo Gonzagão como tema, feitas por diversos artistas plásticos, ocorreram. Em Caruaru, no mês de junho, a exposição “Baixio dos Doidos” fez uma releitura do universo gonzagueano. O excelente filme do cineasta Breno Silveira, “Gonzaga: de Pai Para Filho”, é sucesso. Tomara que represente o Brasil no Oscar e ganhe a estatueta de melhor filme estrangeiro. Em Brasília, a Ordem do Mérito Cultural, a maior condecoração outorgada pelo Governo Federal, homenageou o Rei e a Universidade Federal Rural de Pernambuco concedeu o título de Doutor Honoris Causa ao Mestre Lua. Eventos, promovidos por diversas entidades, de norte a sul do País, foram realizados: procissão de sanfoneiros, no Piauí; os Correios lançaram um selo comemorativo para a data; escolas orientaram seus alunos a pesquisarem sobre o legado de Luiz; entre tantos outros acontecimentos.
Diante de tudo isso, brincando, pensei: nossa, só falta eu homenageá-lo! Afinal, como filha de um dos seus parceiros, fui uma privilegiada: muito pequena e buliçosa, “tocava” na famosa sanfona branca do Rei, enquanto ele visitava o meu pai, em nossa casa, no País de Caruaru. Seu Luiz achava graça na minha trela. Daí, para saudá-lo, resolvi narrar uma estória que ele contou a Seu Nelson. O causo aconteceu em uma cidade do interior, na época em que o Xêro da Karolina (com K), era sucesso. Durante um show, quando iniciava o xote, Lula foi interrompido pelo Delegado que quis proibi-lo de cantar tal música. Disse que Carolina era o nome de sua senhora e ele não admitia safadeza com o nome dela (a música era considerada indecente, pois Gonzaga gemia quando a cantava, embevecido com o xêro do cangote da moça). O Rei tentou argumentar: “mas Dotô, essa música eu tenho que cantar, o povo quer!” Aí, o sujeito ordenou: “então, mude o nome da mulher pra Minervina” No palco, Luiz, observando a plateia, deu os primeiros acordes. Na primeira fila, a otoridade, ao lado da esposa, encarava o sanfoneiro. Gonzaga, que não era besta, soltou a voz, acompanhado pelo auditório vibrando: Minervina foi pro samba, Minervina/ Pra dançar o xenhenhém, Minervina / Todo mundo é caidinho, Minervina / Pelo cheiro que ela tem / Minervina, huum, huum, huum (...) A incelênça deu uma gaitada, e, satisfeito, no final da apresentação convidou o cantador para jantar. Esperto, Luiz agradeceu, alegando que precisava viajar. Na verdade, ele queria se livrar daquele fuzuê: Minervina era casada com o pior inimigo do marido de Carolina, um Coroné, brabo que nem um siri na lata. O Rei e eu, saudade até que assim é bom...
* Valéria Barbalho é medica pediatra, filha do compositor Nelson Barbalho.
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