segunda-feira, 28 de março de 2016

JORGE DE ALTINHO - NATIVO

Um regresso à tradição dos ritmos nordestinos. É essa a minha proposta com o CD "Nativo"
No início da década de 80, quando comecei a cantar, conversei com Luiz Gonzaga, nosso mestre, e disse que queria inovar no forró, aproximar mais a música regional da juventude, do meio urbano, além do rural que já era público cativo. Ele era meio "pé atrás". Mas não questionou quando viu o resultado, tanto que gravamos juntos e fizemos música em parceria. Foi a época que começamos a ouvir com mais frequência arranjos de músicas de forró com instrumentos de sopro e guitarra, por exemplo. Eu tive a oportunidade de popularizar algumas tímidas tentativas que já tinham sido feitas, inclusive pelo próprio Gonzaga que, antes de mim, já tinha aderido à bateria e ao baixo, e por Jackson do Pandeiro, usando clarinete.

Quem acompanha os 35 anos de meu trabalho percebe a fidelidade à base dos ritmos nordestinos, marcada por sanfona, zabumba e triângulo; assim como aos arranjos harmoniosos; às letras românticas e referências regionais. Depois desse tempo, com o surgimento de novas propostas e, percebendo o risco de perdermos a referência da nossa autenticidade, estou retomando o começo da estrada, sobretudo para lembrar de quem somos herdeiros e que herança vamos deixar para as novas e próximas gerações.

Já repararam que, nas festas, as pessoas estão dançando cada vez mais sozinhas? Então, os xotes do CD são um convite para dançar juntinho. As letras falam do romance, paixão, separação. E dois compositores me ajudaram a tratar disso: Marquinhos Maraial (Abençoado/Minha Maria) e Jorge Silva, com que compus (Apagando Fogo).

"Briga à toa" é a mensagem mais simples entre todas:
Se você quer voltar pra mim / Tem que me dizer agora

Compondo, me peguei relembrando outros sucessos:
Sou feliz / Porque você voltou pra mim... e Se o povo falar, falar / Nem ligue, nem ligue / Deixe o povo falar...

Das 12 faixas, 10 são inéditas. "Linda" foi a regravação por teimosia, um reforço à valorização da mulher. Não é possível que a mulher goste de ser destratada, como vemos em certas músicas hoje em dia! Além dos xotes, tem forró, baião e samba de matuto (ou samba de latada). Em "Filho do Cariri", tentei descrever alguns elementos da vida de quem nasce e permanece no interior semiárido porque ama seu lugar. "Luiz, Sertão, Saudade" é a saudade de Luiz Gonzaga, que eu tinha gravado em DVD, em 2013, mas era country, sobressaindo arranjos de guitarra. Agora, a música ganhou a cara de "ti Luiz". Era assim que eu o chamava com muito carinho.

Para encerrar, um instrumental, título do CD "Nativo", feito por mim e tocado pelo sanfoneiro Luizinho, de Serra Talhada/PE, um garoto, desses em quem a gente deposita a esperança da continuidade de um trabalho caprichoso e fiel. Cheguei pra ele disse: vamos lembrar o fole de oito baixos e um forró que não é de sua época, mas você sabe como é; quando se dançava a noite toda, molhando o terreiro por causa da poeira e o sanfoneiro dava conta mesmo com uma sanfoninha pequena.

Espero que gostem, vivam, revivam...

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